Estou casada há oito anos e tenho três
filhos. Há algum tempo nosso casamento não vai bem; discutimos por qualquer
motivo. De qualquer forma, nunca pensei que meu marido seria capaz de propor a
separação.
Ele já se mudou e não estou suportando viver sozinha. Meus filhos
são adolescentes e têm suas próprias atividades; quase não param em casa. Não
tenho ânimo pra nada e não vejo sentido nenhum na minha vida sem ele." ***
"Todas as vezes em que me separo, sofro muitíssimo como se tivessem me
arrancado um pedaço. Mas o que mais tenho tentado na vida é ser inteira e
sozinha. Ficar em pé nas minhas próprias pernas, para que o outro não precise
me dar nada, a não ser seu carinho, sua vontade de estar comigo, seu bom humor.
Se ele for embora, vou sofrer, mas não vou morrer", me disse, há alguns
anos, a grande atriz Marília Pêra...
Mas nem sempre é isso o que acontece. A
história da internauta é igual à de muitas pessoas que, ao encontrar um
parceiro, o transformam em única fonte de interesse. Quando fracassa esse
projeto amoroso, a pessoa perde o referencial na vida e sua autoestima fica
abalada. A questão é que no Ocidente somos incentivados, desde muito cedo, a
acreditar só ser possível encontrar a realização afetiva através da relação
amorosa fixa e estável com uma única pessoa. A propaganda a favor é tão
poderosa que a busca da "outra metade" se torna incessante e muitas
vezes desesperada.
Se surge um parceiro disposto a alimentar
esse sonho, pronto: além de se inventar uma pessoa, atribuindo a ela
características que geralmente não possui, se abdica facilmente de coisas
importantes, imaginando que, agora, nada mais vai faltar. E o mais grave: com o
tempo passa a ser fundamental continuar tendo alguém ao lado, pagando-se
qualquer preço, mesmo quando predominam as frustrações. Não ter um par
significaria não estar inteiro, ser incompleto, ou seja, totalmente desamparado...
Acredito que a condição essencial para
ficar bem sozinho seja o exercício da autonomia pessoal. Isso significa,
além de alcançar nova visão do amor e do sexo, se libertar da dependência
amorosa exclusiva e "salvadora" de alguém. O caminho fica livre
para um relacionamento mais profundo com os amigos, com crescimento da
importância dos laços afetivos...
É com o desenvolvimento individual que se
processa a mudança interna necessária para a percepção das próprias
singularidades e do prazer de estar só. E assim fica para trás a ideia
básica de fusão do amor romântico, que transforma os dois numa só pessoa. E
quando se perde o medo de ser sozinho, se percebe que não ter um par amoroso
não significa necessariamente solidão.
Autora / Texto: Regina Navarro Lins,
Psicanalista.
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