domingo, 7 de maio de 2017

Curiosidade! Qual a diferença entre mal humor x mal humor patológico (distimia)...



Conhece aquela pessoa mal humorada, insatisfeita, pessimista e que se queixa com frequência que está cansada? Ou que não tem disposição para muita coisa, que parece lhe faltar energia? Ou que se queixa da dificuldade em dormir, vive reclamando da vida ou de qualquer coisa que aconteça ou que deixou de acontecer? Outras vezes, queixa-se das pessoas, é impaciente e briga com alguma facilidade quando contrariada? Pessoas assim são descritas como difíceis de conviver ou com um gênio forte, porém este jeito de ser pode ter outro nome: Distimia.

A Distimia é um tipo de depressão que faz parte do grupo dos Transtornos do Humor. Ela é diferente dos outros tipos de depressão porque seus sintomas são mais leves, mas têm longa duração e, por isso, é difícil que a pessoa se perceba deprimida, fazendo com que ela conviva com essa depressão por longos anos. Na Distimia a característica mais marcante é a irritabilidade e o mau humor e estes se confundem com muita facilidade como sendo características pessoais do indivíduo. Alguns distímicos sentem-se assim a vida toda chegando a achar que eles são assim mesmo, sem considerar o quadro como um estado patológico. A característica básica deste transtorno é o fato do indivíduo apresentar o humor deprimido durante grande parte do dia, na maior parte dos dias. Os sintomas devem durar pelo menos dois anos para justificar o diagnóstico de Distimia, porém as pessoas podem ter curtos períodos de humor normal.

No Brasil, existem 5 a 11 milhões de pessoas que sofrem desse mal. Eles são 3 a 6% da população mundial e de cada 100 pacientes atendidos nos postos de saúde, 7 provavelmente têm Distimia. Estas pessoas podem apresentar altas taxas de absenteísmo (faltas no trabalho), por exemplo. Essas taxas são quase tão altas quanto às faltas devidas às cardiopatias crônicas e estão entre as primeiras causas de absenteísmo no mundo.

Na Distimia, os sintomas depressivos incomodam o paciente, mas não o impede de exercer suas atividades, apenas faz com que ele tenha que despender um esforço maior que as outras pessoas para realizá-las. Geralmente são sempre queixosas e pra baixo e nada parece ser bom o suficiente para elas, quase não conseguem sentir prazer nas coisas que normalmente as interessava, e por isto têm pouquíssimos interesses.  Muitas vezes têm dificuldades com o sono  ou com apetite.

Para preencher o diagnóstico de Distimia os pacientes, além do sentimento de tristeza prolongado, precisam apresentar dois dos seguintes sintomas:

  • Oscilações do humor (irritado ou deprimido);
  • Dificuldade em aproveitar o lado bom da vida;
  • Dificuldade de concentrar-se ou tomar decisões;
  • Insônia ou sonolência: acordar várias vezes à noite e sentir-se cansado pela manhã;
  • Dificuldade de concentração e de memória, mesmo para atividades lúdicas (ex: assistir um filme);
  • Somatizações (ex.: dores de cabeça, fadiga crônica);
  • Desesperança;
  • Aumento ou diminuição do apetite;
  • Sentimentos de incapacidade e menos valia;
  • Em crianças: irritabilidade e manhas;
  • Em adolescentes: isolamento, rebeldia, abuso de drogas e irritabilidade.

É muito comum no relato do distímico a queixa de que faz as coisas com dificuldade como se estivesse pesado, lento, sem prazer, fazendo o mínimo ou só o essencial a cada dia e mesmo assim, muitos não procuram ajuda. Quando procuram, raramente procuram um psiquiatra. Na maioria das vezes ele vai a um clínico com queixas como falta de apetite, insônia ou cansaço. O clínico, pouco treinado no diagnóstico de transtornos mentais, não reconhece a depressão e  investiga as queixas físicas, com as quais tem mais familiaridade. Para o tratamento destas, muitas vezes vão prescrever vitaminas, indutores do sono, tentando tratar cada queixa isoladamente.

A maioria dos distímicos não consegue dizer quando se percebeu deprimido pela primeira vez, isso quando reconhecem seu estado como um problema.  E os que sofrem de Distimia desde a infância ou adolescência tendem a acreditar que esse estado faz parte do seu jeito de ser e por isso não procuram um médico, afinal, conseguem viver quase normalmente. Porém, isso afeta diretamente sua vida familiar, social e até profissional ou outras formas graves de disfunção social.

Os distímicos são muito exigentes consigo próprios e com os outros e não aceitam limitações pessoais ou alheias. Qualquer situação os deixa estressados e são verdadeiramente capazes de produzir estresse em quem os cerca, criando um clima generalizado de insatisfação, constrangimento e até mágoa com as pessoas mais próximas e com as quais convive.

Além das consequências negativas nas relações interpessoais, há o sofrimento individual, pois são comuns o sentimento de inadequação e desconforto, a generalizada perda de prazer e o isolamento social manifestado por querer ficar só em casa, sem receber visitas ou atender ao telefone. A irritabilidade com tudo e impaciência são sintomas frequentes e incomodam ao próprio paciente gerando, por vezes, sentimentos de culpa e remorso pela falta de autocontrole em suas reações.

A vida profissional pode ser prejudicada pelos desentendimentos com os colegas. Por terem autoestima rebaixada e muita autocrítica, não conseguem confraternizar e usam qualquer pretexto para evitar situações de contato social. Como consequência, o distímico reage negativamente no trabalho, nas atividades sociais e afetivas, o que mantém a solidão e o pessimismo. Por isso, atualmente muitos especialistas consideram a Distimia como uma perturbação psiquiátrica grave, já que, se não tratada, representa à sociedade custos elevados em termos de sofrimento individual, baixa produtividade e tempo perdido no trabalho.
Existe outro problema importante que pode ser provocado pela Distimia, o uso abusivo do álcool/drogas ou o comer compulsivo, por exemplo. Comportamentos disfuncionais utilizados como recurso para aliviar seu sofrimento sendo, portanto, uma forma autodestrutiva. Muitos são tratados como alcoólatras, drogados ou obesos, sem levar em conta a depressão de base que os levou a essas doenças.

Não é possível afirmar com segurança as causas da doença, mas devem ser consideradas a história familiar e questões ambientais e familiares como: relações familiares insatisfatórias na infância, pais agressivos, famílias com maior incidência de distúrbios de personalidade, abuso de álcool e drogas, etc. Geralmente há uma associação de fatores que levam, não só às formas mais ou menos prolongadas ou intensas da Distimia, como quanto à característica própria de expressão da doença em cada indivíduo.

O tratamento da Distimia envolve tratamento medicamentoso e psicoterapia que demonstram bons resultados. Entretanto, isoladamente, um e outro não funcionam. Embora os antidepressivos corrijam o distúrbio biológico, o paciente precisa aprender novas possibilidades de reagir e estabelecer relações interpessoais mais saudáveis. Porém, a maior dificuldade está em fazer o paciente reconhecer e aceitar que é mal humorado e submeter-se a tratamento. O tratamento não servirá apenas ao próprio paciente, mas, sobretudo, às demais pessoas que convivem com ele.

O problema prático mais importante da Distimia é em relação à possibilidade da pessoa ter ou não uma visão crítica sobre sua situação de mal humorado. Além disso, é fundamental que o distímico esteja ou não satisfeito com sua maneira de ser e a forma como conduz a sua vida.

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