1. INTRODUÇÃO
A sexualidade humana é um dos aspectos mais importantes da vida de uma pessoa. Ela permite o relacionamento entre os indivíduos, a vivência de prazeres e a manutenção da espécie humana sobre a terra (RODRIGUES JR., 2003, p. 1). Por isso, é um assunto que merece atenção e estudo.
O estudo da sexualidade é válido para se obter conhecimento e compreender melhor nosso próprio funcionamento; reconhecer mitos e diminuir preconceitos sexuais; clarificar valores, melhorando assim, a satisfação sexual nos relacionamentos, à medida que, conhecendo-se melhor os próprios valores sexuais e a origem destes, os princípios que comandam nosso comportamento são mais conscientes (Ibidem).
Além disso, estes estudo também ajuda no reconhecimento dos elementos destrutivos nos relacionamentos, a lidar com as frustrações sexuais e, principalmente, com os problemas de resposta sexual (Ibid.).
Um dos assuntos que vêm, há alguns anos, sendo abordado pelos estudos nesta área são os transtornos ou distúrbios da sexualidade. Atualmente, o termo mais empregado para estes distúrbios é parafilia. O estudo das parafilias visa conhecer as variantes do erotismo em suas diversas formas de estimulação e expressão comportamental (BALLONE, 2003, p. 1).
Uma das dificuldades encontradas ao estudar esse assunto é a tentativa de diferenciar “normal” de “anormal”, pois o comportamento sexual é relativo, dependendo da cultura, da época e do conceito de “normalidade” de quem o pratica. Existe hoje, entre os estudiosos da sexologia, uma preocupação em não rotular ou estigmatizar comportamentos em “normais” ou “anormais”. Acredita-se, na medicina moderna, na inexistência de um padrão absoluto (SUPLICY, 1991, p. 289).
Entretanto, está claro que comportamentos extremos são considerados prejudiciais na maioria das culturas, à medida que provoquem dor, perigo de vida, invadam a privacidade do outro, causem medo ou dano à saúde do indivíduo ou de outra pessoa (Ibidem). Observa-se, assim, que cada caso deve ser avaliado em si mesmo, distanciado dos preconceitos sociais (Ibid.).
Baseado em estudos realizados até o momento, este trabalho visa relacionar os principais distúrbios da sexualidade, sua implicação na saúde tanto de quem pratica como do outro, formas de diagnostico, tratamento, prevalência e complicações legais.
Para isto, foi realizada pesquisa bibliográfica e, dentre os principais autores pesquisados, pode-se citar José Geraldo Ballone, Oswaldo Martins Rodrigues Júnior e Marta Suplicy.
2. CONCEITO DE PARAFILIA
De acordo com ROUDINESCO & PLON (1998, p. 583), as parafilias são práticas sexuais consideradas como desvios em relação a uma norma social e sexual.
Partindo deste pressuposto, o que é considerado como ato parafílico para uma sociedade, pode não ser para outra e ainda pode ser classificada como prática sexual normal em uma ocasião futura.
Pode-se citar a prática sexual do homossexualismo, considerado na Grécia Antiga como uma forma suprema de amor, mais tarde encarado como um vício satânico pelo cristianismo e, por fim, classificado como prática sexual normal, passando a não mais constar no catálogo das parafilias do Terceiro Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais (DSM-III), editado em 1987 pela American Psychiatric Associatien (Ibidem).
Até 1987, a sexologia e a psiquiatria usavam o termo “perversão sexual” para designar práticas sexuais consideradas como desvio em relação a um padrão. Na classificação moderna, parafilia é visto como um termo preferível à perversão, porque esclarece a natureza essencial deste grupo de comportamentos, ou seja, excitação em resposta a um estímulo inadequado (BALLONE, 2003, p. 1).
Assim, de acordo como estímulo excitatório o parceiro ora é reduzido a um fetiche (pedofilia, sadomasoquismo), ora o próprio corpo de quem se entrega à parafilia (travestismo, exibicionismo), ora um animal ou objeto (zoofilia, fetichismo) (ROUDINESCO & PLON, 1998, p. 584).
É importante lembrar que a pessoa que pratica atos considerados parafílicos em alguma ocasião de sua vida, não é portador de parafilia. O comportamento sexual normal inclui, freqüentemente, elementos das parafilias, tipicamente, como parte do prazer, não sendo, portanto, a única forma de prazer. Para o portador de parafilia, estes elementos não são facultativos, mas tornam-se um fim buscado insistentemente (CAMPBELL, 1986, p. 458).
Logo, fantasias, comportamentos ou objetos são considerados parafílicos quando levam sofrimento ou prejuízo clinicamente significativos, pois podem acarretar disfunções sexuais, exigir participação de pessoas sem consentimento, trazer complicações legais e interferir nos relacionamentos sociais (DSM-IV..., 1995, p. 495).
Desta forma, os indivíduos portadores de uma parafilia se caracterizam por possuírem uma personalidade sexualmente imatura, por terem pensamentos compulsivos e por executarem atos sexualmente agressivos que podem ou não envolver contato físico com o outro, tendo mais chances de repetirem um delito sexual justamente pela presença de pensamentos compulsivos. (COHEN; FERRAZ; SEGRE, 1996).
Comumente, as pessoas que manifestam parafilias também exibem transtornos de personalidade, abusos de substâncias psicoativas ou transtornos afetivos e podem apresentar mais de um comportamento parafílico (BALLONE, 2003, p.1).
Classificadas pelo CID 10 (Classificação Internacional de Doenças) como transtornos de preferência sexual, as parafilias ainda compõe o DSM-IV, que descreve oito das parafilias mais observadas e faz referência a várias outras, encontradas com menor freqüência (Ibidem).
3. PARAFILIAS
As características essenciais de uma parafilia consistem em fantasias, anseios sexuais ou comportamentos recorrentes intensos e sexualmente excitantes, envolvendo objetos não-humanos, sofrimento ou humilhação próprios ou do parceiro, crianças ou outras pessoas sem seu consentimento (BALLONE, 2003, p. 2).
Segundo autores americanos, só a fantasia duradoura, isto é, com mais de 6 meses, basta para o diagnóstico de parafilia, não sendo necessário o ato propriamente dito. Somente fantasiar algumas vezes ou usar recursos fantasiosos com a finalidade de incrementar uma relação sexual, não faz de ninguém um portador de parafilia. Nas parafilias, o ato sexual em si perde importância tanto para o objeto quanto para a fanatasia (SAADEH, 2003, p. 1).
As parafilias raramente são diagnosticadas em ambientes clínicos, mas os grandes mercados comercias sobre pornografia e a parafernália parafílica existentes hoje, são testemunhas de que a prevalência é alta (BALLONE, 2003, p. 4). A pedofilia, o voyeurismo e o exibicionismo são os comportamentos mais comumente observados nas clínicas especializadas no tratamento de parafilias, sendo muito menos observado o masoquismo e o sadismo sexuais.
Aproximadamente, metade dos pacientes observados são casados e a grande maioria dos portadores de parafilia são homens ( Ibidem).
3.1 Pedofilia
Segundo SUPLICY (1991, p. 297), a pedofilia é a variante sexual em que o individuo adulto sente desejo erótico compulsivo, de natureza homossexual ou heterossexual, por crianças ou adolescentes. As vítimas podem ser, inclusive, bebês de poucos dias ou meses de vida, geralmente resultando na morte deste bebê, principalmente se o violentador for do sexo masculino e tiver um intercurso com penetração vaginal ou anal (RODRIGUES JR., 1991, p. 63).
Trata-se do desvio mais comum em todas as raças e civilizações (LOPES-IBOR apud RODRIGUES JR., 1991, p. 63). Embora mulheres que têm este comportamento sejam raras, a grande diferença entre número de infratores de sexo masculino em relação ao sexo feminino se dá por estereótipo sexuais. Ou seja, o afago feito pela mulher em uma criança denota carinho enquanto o feito por um homem é visto como molestação sexual (BALLONE, 2003, p. 4).
Outro fato que gera diferença no número de relatos pedófilos em relação aos de pedófilas, é o fato de que a pré-adolescente, na maioria da vezes, quando é procurada por um homem mais velho, sente-se molestada, já o menino, em sua maioria, acha a experiência positiva, conseqüentemente, a mulher pedófila não é delatada (Ibidem).
A procura de jovens rapazes por parte de homens adultos envolve a homossexualidade, que neste caso, recebe denominação especial, sendo chamado, de pederastia ou uranismo (RODRIGUES JR., 1991, p. 63). Esse comportamento era muito comum na Grécia de Péricles, no século V a.C., onde adultos tomavam um jovem púbere com a missão de transformá-lo em homem adulto, educando-o ou fornecendo-lhe educação nas artes e filosofia. Quando o jovem completava 21 anos e/ou cresciam-lhe barba e pêlos pelo corpo, era abandonado por já ter se tornado adulto (Ibidem).
Segundo o DSM- IV... (1995, p. 499), o indivíduo com comportamento pedófilo deve ter 16 anos ou mais e ser pelo menos 5 anos mais velho que a criança. Para indivíduos que praticam pedofilia no final da adolescência, não se especifica uma diferença etária precisa, cabendo exercer o julgamento clínico, pois é preciso levar em conta tanto a maturidade sexual quanto a diferença de idade.
A dificuldade sexual com o parceiro adulto pode ser um dos incentivos principais do pensamento pedófilo, pois, com uma criança, aquele tem o controle da situação. Isso ocorre principalmente com homens casados com dificuldades conjugais ou que temem o controle sexual com suas respectivas esposas. Há ainda casos de homens que foram molestados na infância e tinham relações instáveis com seus pais, e, quando adultos, tornaram-se pedófilos (BALLONE, 2003, p. 4).
Segundo o DSM-IV... (1995, p. 499), alguns indivíduos que praticam pedofilia têm atração sexual, exclusivamente, por crianças (Tipo Exclusivo), enquanto outros, às vezes, sentem atração por adultos (Tipo Não Exclusivo).
Os indivíduos com pedofilia podem limitar sua atividade a despir-se e observar a criança, a exibir-se e masturbar-se na presença dela, ou tocá-la e afagá-la. Outros, entretanto, realizam felação, cuninlíngua ou penetram a vagina, boca ou ânus da criança com seus dedos, objetos estranhos ou pênis, utilizando variados graus de força para tal.
Essas atividades são geralmente explicadas com desculpas ou racionalizações de que possuem “valor educativo” para a criança, de que esta obtém “prazer sexual” com os atos praticados, ou de que a criança foi “sexualmente provocante”, temas comuns também na pornografia pedófila. Assim, não há necessidade de ocorrência de violência no ato, pois a criança pode ser seduzida ou até participar com prazer das atividades.
3.2 Exibicionismo
Segundo Suplicy (1991, p. 294), o exibicionismo consiste na exposição compulsiva dos órgãos sexuais, sob condições inapropriadas, para uma pessoa de outro sexo, com a intenção de provocar excitação e gratificação sexual em si próprio. Em alguns casos, o exibicionista tem o desejo de surpreende ou chocar o observador. Em outros, este tem a fantasia de que o observador ficará sexualmente excitado (BALLONE, 2003, p.1).
Não se trata de uma prática incomum, pois a maioria das mulheres já encontrou homens que lhe expuseram a genitália. Esta é a forma mais comum de ataque sexual nos centros urbanos. Para este autor, esta é uma prática mútua na infância, onde crianças mostram-se aos outros. Pode ser usado como forma de rebelião ou recusa, mas se persistente é de causa sexual, visando à satisfação sexual (RODRIGUES JR., 1991, p. 46).
De acordo com o DSM-IV...(1995, p. 498), o início ocorre antes dos 18 anos, embora possa começar mais tarde, sendo menos freqüente em indivíduos com mais de 40 anos de idade. Os exibicionistas são em sua maioria homens, que, geralmente, se masturbam durante ou depois de exposição de sua genitália. Grande parte destes é impotente na relação heterossexual, são tímidos e têm medo do contato sexual, tem 20 a 30 anos, são ou já foram casados, têm inteligência acima da média e possuem trabalho satisfatório. Raramente cometem o estupro ou atacam a vítima. Querem somente se exibir e assim que são vistos fogem (SUPLICY, 1991, p. 294-295).
BLUGASS citado por BALLONE (2003, p. 2) verificou que 7% dos exibicionistas, em seu estudo de acompanhamento, mais tarde foram condenados por agressões no contato sexual, incluindo estupro. O que expressa uma possível tendência do exibicionista tornar-se um agressor sexual (BALLONE, 2003, p.1).
A baixa incidência em mulheres é atribuída à maior liberdade para a mulher se exibir parcialmente (saias, biquínis, casas noturnas com strip-tease e decotes) ou ainda pela diferença anatômica, já que a mulher não possui o pênis para exibir-se (RODRIGUES JR., 1991, p. 46).
SUPLICY (1991), refere que alguns estudiosos acreditam que as causas desta expressão sexual sejam devido à imaturidade emocional e insegurança a respeito de sua masculinidade. Outros acreditam que hostilidade e raiva sejam a raiz, e que, sempre que o homem sente inadequação, responde num modelo inapropriado, hostil ao complexo de castração. Uma afirmação pública de que não foi castrado”(p. 295).
De acordo com RODRIGUES JR. (1991, p. 48-49), o tratamento é de prognóstico limitado, exceto nos casos de exibicionismo periódico. Nos casos extremos, a castração tem sido proposta em alguns países como de “cura”.
É preciso observar que o exibicionista, na maioria das vezes, tem satisfação sexual apenas em exibir seus genitais, não lesando a privacidade nem a integridade de ninguém. É um ato anormal, mas bastante comum. Já o exibicionista que tem necessidade de invadir a privacidade de alguém, sem seu consentimento, exibindo-se sexualmente, precisa de tratamento. Para tais indivíduos resta o tratamento psicológico ou a penalidade criminal (Ibidem).
3.3 Fetichismo
Termo criado, por volta de 1750, a partir da palavra fetiche (derivada do português feitiço: sortilégio, artifício), retomado em 1987 pelo psicólogo francês Albert Binet (1857 – 1911) e, mais tarde, retornado pelos fundadores da sexologia, para designar quer uma atitude da vida sexual normal, que consiste em privilegiar uma parte do corpo do parceiro, quer uma perversão sexual (ou fetichismo patológico), caracterizado pelo fato de uma dos das partes do corpo (pé, boca, seio, cabelos) ou objetos relacionados com o corpo (sapatos, chapéus, tecidos etc.) serem tomados com objetos exclusivos de uma excitação ou um ato sexual (ROUDINESCO & PLOM, 1998, p. 235).
Segundo DSM-IV... (1995, p. 498), os objetos mais comuns utilizados são calcinhas, soutiens, meias, sapatos, botas ou outras peças do vestuário feminino.
BEREST apud SUPLICY (1971) denomina de fetichismo a incapacidade do amor à mulher com uma pessoa real, apenas conseguindo amar uma parte dela, então chamada de “parcialismo”. Afirma que não há interesse na mulher, mas nas mãos, peitos, na atividade sexual com outra pessoa. Sem essa incorporação, o indivíduo não consegue excitar-se (p.295).
Em geral, inicia-se na adolescência, embora o fetiche possa ter sido investido de uma importância especial na infância (DSM-IV..., 1995, p.498).
Os fetichistas têm pouca habilidade social, são pessoas isoladas e têm pouca capacidade para estabelecer intimidade. Freqüentemente colecionam os objetos do fetiche e são geralmente homens que transferem a angústia e os sentimentos de culpa que associam à atividade sexual deslocando seu interesse erótico para objeto que o simbolize (SUPLICY, 1991, p.295).
Segundo o DSM-IV... (1995), o fetichismo não é diagnosticado quando os fetiches se restringem a artigos do vestuário femininos usados no travestismo, como no fetichismo transvéstico, ou quando o objeto é genitalmente estimulante, porque foi conhecido com esta finalidade, como por exemplo um vibrador.
3.4 Froteurismo
Para RODRIGUES JR.(1991, p. 87), de caráter eminentemente masculino, o froteurismo ou frotage refere-se ao prazer sexual em esfregar-se ao corpo de outra pessoa, para obtenção de prazer sexual, em especial, quando em meio a multidões, a exemplo do carnaval e transportes coletivos lotados.
O DSM-IV... (1995, p. 499) afirma que se trata de impulsos sexuais recorrentes e intensos, associados a fantasias excitantes, que envolvem o tato e o atrito contra uma pessoa sem o seu consentimento.
Ocorre tipicamente em locais públicos com grande concentração de pessoas, desta forma, caso seja descoberto, há a possibilidade de fuga fácil, ou ainda, alegar que o toque foi acidental (BALLONE, 2003, p. 4)
Ele esfrega seus genitais contra as coxas e nádegas da vítima ou ainda acaricia as mãos, seus seios e genitália. Enquanto pratica o ato, o indivíduo geralmente fantasia um relacionamento carinhoso e exclusivo com a vítima (DSM-IV..., 1995, p. 499). FUCS apud RODRIGUES JR. (1991, p.87) afirma que é um desvio de pouca importância, porque a palpação e o ato de esfregar-se em outra pessoa é um tanto comum em nossa cultura o que torna tais atos, até certo ponto, aceitáveis.
Inicia-se geralmente na adolescência, a maioria tem entre 15 e 25 anos. Com o avanço da idade, tende a diminuir a freqüência deste ato, porém indivíduos mais velhos, tímidos e inibidos podem apresentar este comportamento (BALLONE, 2003, p. 4).
3.5 Voyeurismo
De acordo com RODRIGUES JR. (1991, p. 79), trata-se da obtenção de prazer sexual através da observação voluntária e intencional de outras pessoas nuas, vestindo-se ou se despindo, ou em atividade sexuais, ou de regiões corporais de outrem, especialmente que não têm conhecimento de estarem sendo observadas.
VITELLO, presidente da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana, citado por GUIMARÃES (2003, p. 1), divide o voyeur em 3 categorias:
Clássico: gosta de olhar, sem que a pessoa saiba que está sendo observada, através de janelas, buracos de fechadura e frestas de porta. Freqüentemente, recorre ao binóculo ou a luneta.
Moderno: excita-se sexualmente ao olhar a namorada, amante ou mulher com outros homens. Neste caso, há consentimento dos envolvidos.
As casas de swing, onde ocorrem trocas de casais, oferecem a possibilidade desta prática e para os solteiros há as chamadas salas de voyeur, onde ele pode apreciar a performance de casais exibicionistas.
Tecnológico: tem prazer sexual ao observar pessoas através das webcams. A prova do sucesso do voyeurismo virtual é a proliferação de sites que mostram a vida das pessoas 24 horas por dia. O simples ato de observar gera no voyeur excitação sexual e, geralmente, não tenta
qualquer atividade sexual com a pessoa observada. Assim, obtém orgasmos masturbando-se durante o ato de olhar ou depois, quando se recordam das cenas excitantes por ele testemunhadas (DSM-IV..., 1995, p. 503).
Geralmente são homens solteiros, com idade entre vinte e trinta anos que têm uma história de sentimentos de insegurança, inadequação e medo de rejeição em relacionamento (SUPLICY, 1991, p.296). Apesar de ser considerado um desvio sexual, não ocorrem maiores complicações, principalmente se o voyeurismo for uma fonte paralela de prazer e não a única fonte de prazer, e acima de tudo se não incomodar a vida dos próprios indivíduos e das pessoas que o rodeiam (GUIMARAES, 2003, p. 1).
Porém na forma grave, o ato de espiar torna-se a única forma de atividade sexual dos indivíduos. Estes geralmente iniciam a prática voyeurista antes dos 15 anos e o transtorno tende a ser crônico (BALLONE, 2003, p. 4).
Segundo Rodrigues Jr. (1991, p. 80), o voyeurista, na forma grave, busca janelas abertas à noite, atravessa telhados, quintais, corre o risco de ser pego, só pela emoção de ver casais em atos sexuais ou pessoas despidas. O que pode trazer-lhe, caso seja pego, problemas legais, visto que seu ato constitui invasão de privacidade, que é passível de pena criminal e pode conduzir à condenação.
Os exibicionistas são uma complementação dos voyeuristas, pois estas pessoas adoram ser observadas, como ocorre com os e-boys e e-girls, através de câmaras espalhadas em seus escritórios e apartamentos (GUIMARAES, 2003, p. 1). É importante lembrar que tanto o exibicionismo quanto o voyeurismo são práticas sexuais inexistentes em sociedades em que as pessoas andam nuas. Mas é, de certa forma, um ato comum a todas as pessoas, visto que a observação do sexo oposto faz parte do prazer sexual, sendo um dos mais agradáveis eventos que conduz à cópula (RODRIGUES JR., 1991, p. 82).
3.6 Fetichismo transvéstico
É definido pelo DSM-IV... (1995, p. 503) como fantasias, impulsos ou comportamentos recorrentes, intensos e sexualmente excitantes, envolvendo ocorrências de vestir-se como o sexo oposto.
O termo travestismo foi criado pelo cientista alemão Hirschfeld há mais de 80 anos e envolve mais que o uso de roupas do sexo oposto, envolve também a atuação do sexo oposto, além de gestos e roupas (RODRIGUES JR., 1991, p. 74) Em sua maioria são homens, heterossexuais, que necessitam usar roupas femininas para obtenção de gratificação sexual. Freqüentemente, são casados e têm filhos e, às vezes, envolvem suas esposas, e o ato de travestir-se passa a fazer parte da vida sexual do casal (SUPLICY, 1991, p. 297).
Segundo o DSM-IV... (1995, p. 502), geralmente o homem com fetichismo transvéstico mantém uma coleção de roupas femininas, que usa intermitentemente. Enquanto usa roupas femininas, ele em geral se masturba, imaginando-se tanto como o sujeito masculino quanto como o objeto feminino de sua fantasia sexual (DSM-IV..., 1995, p.502).
Os fenômenos transvésticos variam desde o uso ocasional de uma roupa feminina até o seu uso exclusivo. Alguns usam apenas um item do vestuário feminino, como por exemplo, uma peça sob roupas masculinas. Outros se vestem inteiramente como mulher e usam maquiagem. Estes, quando não travestidos têm atitudes e posturas masculina (Ibidem).
Ainda de acordo com o DSM-IV..., em alguns casos o desejo de usar roupas femininas pode mudar ao longo do tempo, temporária ou permanentemente, com a excitação sexual em resposta ao travestismo diminuindo ou desaparecendo. Nesses casos, o uso de roupas femininas torna-se um antídoto para a ansiedade e depressão ou contribui para um sentimento de paz e tranqüilidade.
Em outros casos, uma disforia quanto ao gênero pode emergir, geralmente em uma situação de estresse, com ou sem sintomas de depressão. Para um grupo reduzido de indivíduos, a disforia quanto ao gênero torna-se fixa no quadro clínico, sendo acompanhada do desejo de se vestir e viver permanentemente como uma mulher, e recorrem a hormônios e à cirurgia.
3.7 Masoquismo e sadismo sexual
O masoquismo sexual envolve o ato de ser humilhado, espancado, atado ou ser submetido a qualquer outro tipo de sofrimento e excitar-se sexualmente diante disso (DSM-IV..., 1995, p. 501). De acordo com ROUDINESCO & PLON (1998, p. 681), o termo sadismo foi criado por Richard Van Krafft – Ebing, em 1886, a partir do nome do escritor francês Donatien Alphonser François, conhecido como marquês de Sade, para designar uma parafilia que inclui pancadas, flagelação, humilhação física e moral. Assim, a satisfação é buscada no sofrimento causado no outro.
Os atos masoquistas envolvem amarras, vendas, espancamento, choque elétrico, cortes, furos e humilhação, como, por exemplo, receber sobre si fezes ou urina da parceira, ou sofrer abuso verbal, ou ser forçado a vestir-se como o sexo oposto (BALLONE, 2003, p. 5) O termo sadomasoquismo foi criado por Sigmund Freud, a partir de sadismo e masoquismo, para designar uma parafilia que se baseia na satisfação sexual ligada ao sofrimento infligido ao outro e a si próprio. É, portanto, baseado no sofrimento passivamente vivido e no ativamente infligido (ROUDINESCO & PLON, 1998, p. 681).
Uma forma perigosa de masoquismo é a “hipoxilifia”, que envolvem a excitação sexual por privação de oxigênio por meio de compressão do tórax, laços no pescoço, ligadura, saco plástico, máscara ou substância química. Tal ato pode ser efetuado de forma solitária ou com participação de um parceiro. Dados dos EUA, Inglaterra, Austrália e Canadá apontam que um a dois óbitos por milhão de habitantes são relatados ao ano como conseqüência da “hipoxifilia” (BALLONE, 2003, p. 681).
Alguns homens com masoquismo sexual também exibem fetichismo, fetichismo transvéstico ou sadismo sexual. As fantasias masoquistas provavelmente estão presentes na infância, começam comumente na vida adulta e tende a ser crônica, sendo o mesmo ato, em geral, repetido, podendo provocar lesões ou levar à morte. (DSM-IV..., 1995, p. 501).
Segundo RODRIGUES JR.(1991, p. 66), o masoquismo é mais associado a mulheres e o sadismo mais a homens. Afirma também, o mesmo autor, que a atitude masoquista desenvolve-se a partir de que a mulher aprende socialmente seu papel da submissão, reproduzindo-o na atividade sexual. Mas lembra que vários estudos mostram o contrário, envolvendo a inversão dos papéis sociais na atividade sexual.
3.8 Zoofilia
Trata-se da obtenção de excitação e prazer sexuais através do contato com animais (RODRIGUES JR, 1991, p. 82). Os relatos de relações sexuais com animais parecem ser mais comuns com homens do que com mulheres. Estas obtêm prazer maior com a observação de animais copulando (ELLIS, apud RODRIGUES JR., 1991, p. 83).
Há culturas em que é considerado “normal” o relacionamento sexual com animais. Estas não os classificam como animais inferiores aos humanos. São assim alguns povos da Oceania e da África (RODRIGUES JR, 1991, p. 84).
Em nossa cultura, normalmente no interior, em ambiente rural, é muito comum homens adolescentes e adultos copularem com éguas, vacas, mulas, as quais, devido à altura, são puxadas próximo a um barranco, resultando na denominação “éguas barranqueiras”. É comum também o coito com galinhas, cadelas e ovelhas. Às vezes, em áreas rurais, manter contatos sexuais com animais é a única forma de expressão sexual possível (Ibidem).
A prática sexual com animais inclui: cunilíngua por parte do animal; felação por parte do humano; foração (penetração anal/vaginal) pelo humano e ou pelo animal (Ibid.). Tais práticas são muito comuns na atualidade, bastando observar revistas pornográficas brasileiras que publicam anúncios solicitando homens e mulheres que apreciem estas práticas e também a quantidade de filmes com este conteúdo (Ibid.).
3.9 Necrofilia
Esta parafilia está relacionada com a pessoa que obtém excitação e prazer sexual, podendo chegar a ter orgasmos, junto à outra pessoa já morta ou doente e incapacitada (RODRIGUES JR, 1991, p. 60). Este tipo de parafilia relaciona-se com características psicopatológicas de muita morbidez e dificuldades de relacionamento interpessoais. A relação sexual torna-se um fetiche, pois o objeto de prazer não tem vida e não pode reagir ou interagir (Ibidem).
Geralmente, pessoas com este comportamento são frias, insensíveis e rejeitadas pelos parceiros, e a procura por cadáveres atende necessidades masturbatórias (Ibid.). Esta prática é encontrada entre coveiros e agentes funerários, pessoas que trabalham com defuntos ou têm acesso a eles.
Isto explica por que procuram tais atividades: por corresponderem a seus traços de personalidades. Nota-se que não são todos os que trabalham nestas atividades que são praticantes de necrofilia; têm-se outros que não mantêm tais atividades e não são necrófilos decididos. Podemos considerar um outro tipo de tendência necrófila: aquele indivíduo que tem preferências sexuais por pessoas doentes e incapacitadas e, que muitas vezes, procuram trabalhar em hospitais para conceder a oportunidade a seu prazer sexual. (Ibid.).
Ainda segundo o mesmo autor, há conhecimento de atos de necrofilia no antigo Egito, praticado por embalsamadores. O famoso caso “Vampiro de Susseldorf” ocorreu na Alemanha, no começo do século. Tratava-se de um criminoso que matava meninas e então as violava sexualmente. O comportamento necrofílico é quase restrito ao sexo masculino (Ibid.).
3.10 Escatologia telefônica
Esta parafilia se refere a pessoas que somente obtêm prazer sexual através de telefonemas anônimos. Geralmente, elas não falam nada, emitem gemidos enquanto se masturbam ou falam palavrões e obscenidades sexuais (RODRIGUES JR. 1991, p. 86).
Atualmente, várias revistas eróticas e pornográficas americanas fornecem números de telefone para tal prática. Estes serviços são tão profissionais que o cliente pode pagar o atendimento com cartões de crédito ou ter suas despesas debitadas na conta telefônica (Ibidem). Os telefones-trote são considerados ilegais e passíveis de processo criminal.
4. CONCLUSÃO
Através de vários conceitos e definições, procurou-se neste trabalho esclarecer algumas questões sobre os tipos de parafilias, seus tratamentos e sua prevalência. Utilizou-se, para isso, pesquisa bibliográfica, valendo-se citar o medico psiquiatra José Geraldo Ballone e os psicólogos e terapeutas sexuais Oswaldo Martins Rodrigues Júnior e Marta Suplicy.
Observou-se que os distúrbios sexuais ou parafilias tratam-se de práticas sexuais consideradas anormais dentro de um padrão social ou cultural. E também que um mesmo comportamento, considerado desviante para uma sociedade, pode não o ser para outra; e estes conceitos podem variar com o tempo, como o ocorrido com o homossexualismo, que passou da forma suprema de amor na Grécia Antiga à prática sexual abominável na Idade Média e finalmente foi assumido como prática sexual normal na Idade Moderna.
Dentre as inúmeras práticas consideradas parafilias, as mais citadas pelos autores estudados são: pedofilia, exibicionismo, fetichismo, froteurismo, voyeurismo, fetichismo transvéstico, masoquismo e sadismo sexual, zoofilia e necrofilia. As mais aceitas em nossa sociedade, principalmente pelos nossos valores culturais, são o froteurismo, o voyeurismo, o exibicionismo e o fetichismo.
O froteurismo trata da obtenção do prazer sexual através do atrito contra o corpo de uma pessoa sem o seu consentimento. Prática muito comum em festas populares como o carnaval, nos transportes coletivos lotados e em grandes aglomerados urbanos.O voyeurismo é a observação voluntária e intencional de outras pessoas nuas. As casas de swing, onde ocorrem trocas de casais, as webcams e casas de shows de strip tease são a prova da proliferação deste comportamento em nossa sociedade.
Já o exibicionismo, que consiste na exposição dos órgãos sexuais, sob condições inapropriadas, é muito comum na infância, quando crianças exibem-se uns aos outros. E enquanto desvio, não é incomum, pois praticamente a maioria das mulheres, em nossa cultura, pelo menos uma vez em suas vidas, encontraram homens que lhes expuseram os seus genitais.
O fetichismo consiste em privilegiar uma parte do corpo do parceiro ou objetos relacionados com o corpo, para obtenção de prazer sexual. A fixação por pés e por sapatos, o uso de cintas-ligas e meias sete oitavos, de fantasias de enfermeira ou de colegial são adereços que provocam excitação e desejo nas pessoas com comportamento fetichista.
As parafilias menos aceitas em nossa sociedade são a pedofilia e a necrofilia, dado à brutalidade e crueldade desses atos. A pedofilia trata da obtenção de prazer em atos sexuais com crianças e adolescentes. A crueldade destes atos de dá principalmente pelo fato de serem, em sua maioria, pessoas próximas das crianças, que se aproveitam disso para seduzi-las à prática sexual.
Já a necrofilia, que trata da excitação sexual na presença de pessoas mortas ou doentes e incapacitadas é da mesma forma brutal, pois quando o ato se refere a pessoas mortas fere os costumes e o respeito a eles. No que diz respeito aos incapacitados, é uma ação desumana, pois aproveita-se desta situação para se praticarem atos sexuais sem a permissão dessas pessoas.
Assim, procurou-se também dar ênfase à existência de várias culturas distintas e, devido a isto, há inúmeras formas de pensar sobre práticas sexuais.
Quando a sexualidade é expressa através de variações, tem-se a prática da liberdade de escolha de vida. Entretanto, não se deve limitar outras pessoas ou invadi-las em suas privacidades sem o seu consentimento. Estas atitudes não condizem com o ser humano que deseja viver em sociedade (RODRIGUES JR., 1991, p. 93).
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Gostaria das referências.
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